TOMADA DE POSSE
19nov2023
HOMILIA
0.
Permitam-me que até para partirmos diretamente da Palavra – muito mais importante – que acabamos de escutar (e sem a “perturbar”...) me dirija simplesmente a todos, queridos irmãos e irmãs, no batismo ou na comum humanidade que acolhemos e queremos em nós edificar!
(Deixo assim as devidas “saudações” para o final da celebração).
1.
Encaminhamo-nos para o final do ano litúrgico (que concluiremos no próximo Domingo) e, com ele, para o final do percurso de leitura e meditação do evangelista S. Mateus que nos acompanhou ao longo deste ano.
“Um homem, ao partir de viagem, chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens...”
A metáfora é clara: este homem que parte é o próprio Deus, cuja Paixão e Morte, Mateus se prepara para narrar.
E... “os seus bens”?
Não são poucos: um único “talento” (equivalente a 6000 denários) corresponderia a uma vida inteira de trabalho.
Não são, não podem ser por isso, tanto as nossas qualidades, capacidades ou méritos... mas a sua própria Vida, o Seu Amor imenso... até à loucura da Cruz, que Ele nos entrega, nos confia!
E o que nós chamamos “talentos” são declinações desse talento maior!
Tantas vezes Deus parece ausente - pelo menos como nós o pensaríamos presente – e, contudo, Ele, em Jesus, deixou-se ficar nas... “nossas próprias mãos”.
Primeiro passo então é saber reconhecer e acolher o que diretamente Ele nos confia:
E cinco, dois ou um... talentos... são sempre um bem imenso!
2.
Mas há um segundo passo: o que faz cada um de nós – o que faço eu – deste tesouro, desta herança tão grande? E o que move ou inspira essa resposta?
Movem-nos aproximações distintas, diria mesmo opostas, sobre a própria identidade de Deus!
Na raiz do comportamento do último servo está o medo de Deus – e este é o pai de todos os medos!
Mas a imagem de Deus que toda a parábola desenha é uma outra: não é o ceifeiro severo do que semeou, mas que deixa alegremente à sua mesa todo o bom grão, duplicando-o até (dá-o a quem já tem dez talentos).
Não estamos no mundo para fazer as contas com Deus, mas para partilhar tesouros de bondade, de alegria, de beleza, de laços.
O pior que nos pode acontecer é ficarmos imóveis, enterrados, estéreis, fracassados e não deixarmos vida... imobilizados pelo medo de errar (quando o pior erro é... não arriscar... sair e, eventualmente errar).
O mundo é uma realidade em germinação, assim como cada criatura e nós estamos no mundo
"para o florescimento do ser" (Romano Guardini), para fazer avançar,
ainda que por um pequeno passo, o bem, os bons talentos, a história da alegria.
“Sepultar”, de alguma forma, essa vida de Jesus em nós, é eternizar o sábado santo e não chegarmos, em cada dia, ao primeiro dia, ao Domingo, à aurora da ressurreição.
3.
O trecho do livro dos Provérbios, por sua vez, apresenta-nos, na figura da “mulher virtuosa,” a visão da realização da página do Evangelho: descentrada de si mesma, a olhar para todos e por todos à sua volta, sem demora nem perda de tempo, pondo verdadeiramente a render os talentos que Deus lhe confiou.
Nela entrevemos Maria - Santa Maria da Maia, Nossa Senhora do Bom Despacho – e bem ao ritmo do caminho da diocese neste triénio, tão marcado, com todo o país, pelas recentes Jornadas Mundiais da Juventude.
Daquele seu “levantar-se apressadamente”- pressa que não é ansiedade mas decisão convicta, bom despacho... – passando pelo encontro e saudação a Isabel, chegamos agora ao salto de alegria de João e que inspira o caminho e o lema deste novo ano:
“Vamos com alegria”! E, como em todos estes anos, “Juntos por um caminho novo”!
4.
Sim, caríssimos irmãos e irmãs - a alusão a Maria não era ainda desta vez a conclusão da homilia... – “vamos com alegria” e “juntos por um caminho novo”!
Sei da alegria, se não de todos, pelo menos de tantos, em acolherem um novo pároco (sob o olhar, cremos sorridente, do P. Domingos Jorge, que todos recordamos com afeto e que, mesmo se de outra forma, continua a acompanhar-nos neste caminho).
Mas alegria - também aquela que nos vem do convite a... sorrir... por estarmos na... Maia... - alegria e novidade... maiores, muito maiores... são aquelas que nos vêm da fonte inesgotável da Palavra, do Evangelho, acolhido, vivido, feito fecundo... e onde se edifica a comunidade.
Aqui estou como e com cada um de vós, como seu construtor, com a vida que me foi dada e que por vós quero dar.
E para que nos possamos reconhecer como comunidade de discípulos (discípulos-missionários) - eu convosco incluído... – unidos no seu nome.
Ou não será este – o da comunidade – o “lugar” (ou “banco”... da parábola do Evangelho) onde se multiplica o dom maior... tesouro imenso... da fé... da vida cristã?
5.
Comunidade, no entanto, não seremos se tais dons, mesmo multiplicados entre nós, não os vivermos em saída e para além das nossas fronteiras, interiores ou exteriores.
Não é certamente por acaso que celebro convosco esta Eucaristia em coincidência com o Dia Mundial dos Pobres, que hoje vivemos com toda a Igreja e pelo sétimo ano consecutivo.
A recomendação de Tobite a seu filho Tobias - “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” – serve não só de lema e mote à mensagem de Papa Francisco, mas também ao caminho, em saída, de cada comunidade, da nossa comunidade paroquial.
Com Papa Francisco - partilho algumas breves passagens da sua mensagem – “(...) somos chamados a ir ao encontro de todo o pobre e de todo o tipo de pobreza, sacudindo de nós mesmos a indiferença e a naturalidade com que defendemos um bem-estar ilusório. (...)
Delegar a outros é fácil; oferecer dinheiro para que outros pratiquem a caridade é um gesto generoso; envolver-se pessoalmente é a vocação de todo o cristão. (...)”
E ainda: “(...) Os pobres são pessoas, têm rosto, uma história, coração e alma.
São irmãos e irmãs com os seus valores e defeitos, como todos, e é importante estabelecer uma relação pessoal com cada um deles. (...)
Aquilo de que seguramente têm urgente necessidade é da nossa humanidade,
do nosso coração aberto ao amor.
Não esqueçamos: «Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles» (EG 198)(...)”
Uno-me ainda ao Santo Padre no agradecimento a quantos também nesta paróquia vivem mais afincadamente este empenho que assim poderá ser ainda de mais e de toda a comunidade: “(...) Damos graças ao Senhor porque há tantos homens e mulheres que vivem a dedicação aos pobres e excluídos e a partilha com eles; pessoas de todas as idades e condições sociais que praticam a hospitalidade e se empenham junto daqueles que se encontram em situações de marginalização e sofrimento.
Não são super-homens, mas «vizinhos de casa» que encontramos cada dia e que, no silêncio, se fazem pobres com os pobres.
Não se limitam a dar qualquer coisa: escutam, dialogam, procuram compreender a situação e as suas causas, para dar conselhos adequados e indicações justas. Estão atentos tanto à necessidade material como à espiritual, ou seja, à promoção integral da pessoa.
O Reino de Deus torna-se presente e visível neste serviço generoso e gratuito;
é realmente como a semente que caiu na boa terra da vida destas pessoas, e dá fruto (cf. Lc 8, 4-15).
A gratidão a tantos voluntários deve fazer-se oração para que o seu testemunho possa ser fecundo. (...)”
6.
“Com alegria” e “juntos por um caminho novo” só podemos prosseguir se “vigilantes”, sem nunca nos deixarmos embalar por soníferos ou tranquilizantes, mas na Luz de que somos filhos (1 Tess.) e que tanto mais acolheremos e habitaremos quanto mais profundamente recebermos e multiplicarmos em nós o talento maior: o talento da vida cristã!
SAUDAÇÃO FINAL
0.
OBRIGADO...
Não serei longo - e não são ainda propriamente avisos! Ainda que um o deva fazer: a manutenção, pelo menos por algumas semanas, de todos os horários e práticas, até para os poder conhecer e convosco poder eventualmente proceder a algum ajuste ou acerto.
Mas perceberão que algumas breves palavras quase se impõem!
1.
E permitam-me uma breve memória pessoal a propósito dos caminhos que conduzem à Maia do céu aberto de hoje – fora e, espero, também dentro!
Entre o século (e milénio) passados e os correntes, celebramos aqui bem perto – no Estádio Prof. José Vieira de Carvalho – a “Bênção das Pastas” da Academia do Porto.
Ocorria – e ocorre – sempre no primeiro Domingo de Maio.
Ocupava-me – e ocupar-me-ia ainda por largos anos – da Pastoral Universitária e era também significativo o empenho meu e de tantos, alguns do quais hoje aqui entre nós: obrigado pela vossa presença, sempre, malta!
Mas havia algo que escapava aos nossos esforços.
A meteorologia!
Naquele ano – não recordo exatamente qual – os dias anteriores tinham sido “carregados” e o temor (de uma Bênção incomodamente molhada) era algum.
Mas naquela manhã, mal me levantei, olhei os céus e exatamente na direção da Maia (vivia no Porto com outros colegas) vislumbrei uma abertura de céu limpo.
Confirmei-o mais tarde: não choveu.
Agradeci à mãe do Céu e à mãe da terra – então ainda... na terra – e a quem havia confiado esta preocupação e me havia tranquilizado: “Vai correr tudo bem, filho / Toninho!”
2 .
Agradecemos a Maria, Senhora da Maia e do Bom Despacho, os céus de hoje. Fora, também, mas sobretudo dentro.
E nela – e ainda na luz de quanto hoje ouvimos – a todas as mães, no céu e na terra, que com a sua presença, entrega e carisma... nos estão a recordar como Deus é também Mãe, como “Igreja” se declina até no feminino.
OBRIGADO!
E convosco e com todos será mais fácil e possível abrir um pouco mais de Céu sobre a nossa humanidade!
3.
No seio de uma tal Mãe - e, acreditamos, a partilhar o seu olhar sobre nós - têm lugar especial os que já partiram... para estarem connosco, de outra forma .
Recordamos já, mas não esqueceremos nunca porque bem gravado na história de tantos e desta paróquia, o >b>Monsenhor Domingos Jorge.
Tive-o como professor ainda no Seminário do Bom Pastor.
Pude falar com ele ainda em Setembro e, com todos vós, espero continuar
a merecer a sua confiança.
Agradeço e, creio poder já dizer... “agradecemos”, de modo especial à família, não só o acompanhamento que lhe prestaram mas também o modo como cuidaram de tudo o que dizia respeito à nova etapa que na paróquia se abria.
4.
Vim de longe... e caminhei longo...
Há há 9 anos, fui chamado ao serviço do Centro Internacional do Movimento dos Focolares.
De acordo, primeiro, com D. António Francisco e, sucessivamente com D. Manuel,
pude responder positivamente.
A partir de Itália e nos cinco continentes (em quatro dos quais... pude... por diversas vezes estar e mesmo viver parte destes anos) reconheço que tantos horizontes se me alargaram.
Não temo nem encerrá-los nem fazê-los pesar na... Maia.
Entre tantas outras coisas aprendi que ninguém é tão pobre que não tenha nada para dar nem ninguém tão rico que nada tenha para receber.
E se algo poderei ter para dar, muito mais tenho para receber e convosco aprender!
Preparei-me para esta etapa em caminho, a pé, desde os Pirinéus francesesaté Santiago de Compostela e daí até ao Porto e à Maia, onde cheguei num quadragésimo dia, de sol, após chuvas intensas.
Fi-lo também por vós e convosco, não conhecendo ainda os vossos rostos e nomes: naqueles mais de 1000 km todos couberam!
Esse dia 40 quero agora desdobrá-lo nos dias que me forem dados viver convosco: como irmão de caminho com o Caminho e Caminhante no meio de nós.
E com todos... caminhantes: mesmo os que já não o poderão fazer “fora” todos podemos caminhar “dentro”.
5.
OBRIGADO assim a todos pela compreensão por este tempo e pela espera paciente!
Agradeço de modo especial os irmãos no ministério presbiteral e diaconal, especialmente na nossa vigararia e na nossa diocese, com D. Manuel e D. Joaquim que pude já encontrar.
Um obrigado particular ao P. Augusto Miranda, Vigário da Vara e Administrador Paroquial nestes quase dois meses e a todos - Padres Vicentinos e Missionários Combonianos – que neste tempo asseguraram os serviços fundamentais.
Obrigado, também pela vossa presença hoje, aqui, e por quantos, não podendo estar presentes, asseguraram a sua comunhão orante e de vida!
A comunhão efetiva e afetiva convosco não é só meta ou ponto de chegada
nem, muito menos, apenas “ornamento”: é o dom primordial de Deus, fonte e contínuo ponto de partida para o nosso caminho.
Assim a quero viver com os Conselhos Económico e Pastoral da paróquia os primeiros órgãos com quem me encontrarei – e com todos os lugares de caminho juntos - de Sínodo – na paróquia, na vigararia, na diocese.
6.
Permitam-me ainda uma palavra de gratidão à minha família de sangue especialmente ao meu irmão, cunhada e sobrinhos que nestes dias me acolhem; à minha irmã e cunhado hoje ausentes mas sempre presentes - os nossos pais, do Céu também connosco se alegrarão (por este filho regressado).
Mas mesmo sem vínculos de sangue há outras “famílias” em que nos vamos fazendo e que também hoje aqui marcam presença: - a do Movimento dos Focolares, onde ensaio continuar a viver e aprender estes caminhos de unidade, como dom para toda a Igreja; - a dos diversos lugares e âmbitos em que servi, da paróquia de Ovar à das Antas, da Pastoral Universitária à Pastoral da Juventude!
Obrigado pela vossa presença e pela amizade de tantos que nem os anos nem os quilómetros conseguem destruir
.
7.
E... perdoem-me, Ex.mas Autoridades, a incorreção protocolar de os deixar para o fim.
Sabem, no entanto, como a lógica do Evangelho baralha e por vezes mesmo inverte estas coisas.
Como primeiros servidores da causa pública, eservo-lhes esta última / primeira palavra de gratidão pela vossa presença
... /.. .
e de garantia de também convosco caminharmos juntos, ao serviço do Bem Comum e da dignidade da pessoa humana.
8.
Quando nos prolongamos nos agradecimentos - e eles são muitos e recíprocos
e mesmo assim posso ter esquecido alguém, do que peço desculpa – costumo dizer que, para “desempatar”, agradeçamos juntos Àquele que acreditamos ser a origem e a fonte de toda a nossa gratidão:
OBRIGADO, Senhor da Vida, fonte da comunhão, caminho e caminhante para e com os nossos passos!
.
2023-11-22 | Pe Bacelar
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