SANTUÁRIO
A vida da paróquia decorreu, até meados do séc. XIX, numa certa dependência do Balio
e da Ordem, como é comprovado pela inscrição da cruz de Malta em vários locais,
nomeadamente na capela-mor da Igreja de S. Miguel.
Até ao século XIX, a paróquia era constituída por um aglomerado de aldeias, cuja
população se dedicava à agricultura ou trabalhava em pequenas indústrias. Em 1868, o P.e João
Vieira Neves Castro da Cruz atribui à freguesia de S. Miguel de Barreiros " ( ... ) as seguintes
aldeias: Assento, Barreiros, Brandinhães, Catasol, Fafiães, Flamengo, Outeiro, Picôto, Pinhal,
Pinta, Souto e Vizo. A egreja parochial é sita na aldeia do Souto. Na do Picôto (linda e populosa
aldeia) está a bella casa do faUecido Visconde de Barreiros, que aqui nasceu." Segundo Pinho
Leal, a freguesia contava com 190 fogos em 1873, o que revela já um aumento significativo face
aos 57 fogos que nela existiam em 1757.
O edifício da atual Igreja de S. Miguel da Maia sucedeu a um outro que é
provavelmente o que foi já referido nas inquirições de 1258. De facto, para que o novo templo
pudesse ser construído, teve de proceder-se,r em 1737, à demolição do anterior, que se situava
aproximadamente na zona hoje ocupada pela capela-mor da Igreja de S. Miguel.
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O antigo edifício é descrito no Livro segundo dd sentença do Tombo da Bailiagem do
Mosteyro de Leça em que se conthent as quatro freguezias a saber Barreyros, Gueifais, São
Mamede e Sanctiago, de 1642, conservado no Arquivo Distrital do Porto com o n." 3603 (
folhas 1 a 3); trata-se de um auto de reconhecimento mandado fazer pelo Balio de Leça, sendo
Frei Manuel Ferreira pároco de Barreiros .
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A igreja, da invocação de S. Miguel-o-Anjo, era de pequenas dimensões - 15,5 varas
(cerca de 17 metros) de nascente a poente e 4,5 varas (cerca de 5 metros) de norte a sul;
apresentava alpendre e campanário, e a porta principal orientada para oeste. No altar-mor
encontrava-se uma imagem de S. Miguel. Num dos altares colaterais venerava-se uma outra
imagem do Padroeiro; no altar oposto, a imagem de S. Roque, provavelmente a mesma que se
conserva ainda na atual igreja e que está certamente ligada às peregrinações a Santiago de
Compostela. De facto, Barreiros era ponto de passagem dos romeiros que tomavam o caminho
do noroeste ou o caminho do Lima.
O adro estendia-se para sul ao longo de 25,5 varas (28 metros), com uma largura de
20,5 (23 metros), dominando-o a sombra de um frondoso carvalho. Era circundado por um muro
com uma única porta de acesso.
Na Primeyra parte do Tombo Segundo da Baliagem de Lessa (folha 4), conservado no
Arquivo Distrital do Porto com o n.? 3614, está transcrito um Auto de reconhecimento que fez o
Reverendo António Filgueira Gayo vigario da Igreja de São Miguel Archanjo da Freguezia de Barreyros, e medição da mesma Igreja, e sua fabrica, datado de 13 de Março de 1711, onde
novamente se descreve o edifício da primitiva Igreja.
Nesse reconhecimento (espécie de inventário), Frei António Carneiro Felgueira Gayo -
que foi pároco de Barreiros de 1699 a 1729 - identifica, perante o procurador do balio de Leça, o
recheio da Igreja: um retábulo, na capela-mor, com uma representação de Cristo, uma imagem
do Menino Jesus e outras de S. Sebastião e de S. Miguel. No altar colateral sul, venerava-se S.
Roque e, no altar oposto, encontrava-se num nicho, protegido por um vidro, a imagem de Nossa
Senhora do Bom Despacho ladeada por dois anjos, sobre um fundo ao moderno, dourado.
Trata-se de uma das primeiras referências ao culto de N." S.ra do Bom Despacho em
Barreiros. Sabemos, a partir de uma informação dada num documento de 1730 pelo P.e Luís de
Oliveira Alvim, que esta imagem tinha sido colocada na Igreja de S. Miguel cerca de cinquenta
anos antes por Frei António Rodrigues de Carvalho, pároco de Barreiros entre 1662 e 1697. Esta
atitude está provavelmente relacionada com a intensificação do culto de Nossa Senhora,
fomentado a partir do Concílio de Trento como forma de luta contra o avanço do
protestantismo. O antigo culto de S. Miguel, padroeiro da paróquia e advogado defensor das
almas, vai então começando a ceder lugar à veneração da Senhora do Bom Despacho, que o
substitui, cerca de 1680, no altar colateral norte da primitiva Igreja de Barreiros.
Pe. Domingos Jorge
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2020-05-01 | Pe Domingos
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